Antes de prosseguir, se esqueça da ideia de que seu próprio pet é o vilão da toxoplasmose gato. E até mesmo de que a melhor forma de prevenir a doença é manter crianças e gestantes longe dele!
Durante muitos anos, pessoas imunodeficientes e mulheres grávidas foram aconselhadas a evitar o contato com gatos. A ideia era não correr o risco de contrair toxoplasmose felina.
Contudo, o conhecimento sobre o ciclo da toxoplasmose de gato foi se popularizando. Hoje em dia, a tradicional agência de proteção à saúde dos Estados Unidos (CDC) já riscou essa recomendação de suas regras. Ela até classificou a toxoplasmose como uma doença transmitida por alimentos.
A toxoplasmose está entre as doenças parasitárias mais comuns no mundo. Isso porque o protozoário Toxoplasma gondii consegue infectar quase todos os animais de sangue quente, incluindo cães, gatos e até mesmo seres humanos.
O ciclo de vida do T. gondii envolve dois tipos de hospedeiros: definitivos e intermediários.
No organismo dos hospedeiros definitivos, o parasita se reproduz de forma sexuada e forma ovos. Já nos intermediários, ele se replica, e os clones se agrupam, formando cistos em qualquer órgão.
Uma coisa é certa: todo gato tem toxoplasmose! Afinal, eles são fundamentais para o ciclo do T. gondii, pois são os únicos hospedeiros definitivos do protozoário.
Imagine o seguinte: o gato ingere um rato ou um pombo que tem um cisto de toxoplasma na musculatura. No trato digestivo do gato, os parasitas são liberados, se reproduzem e produzem os ovos. Em seguida, milhares deles são excretados pelas fezes do felino entre o 3o e o 25o dia após a infecção.
Um fato importante: eles são capazes de sobreviver no ambiente por mais de um ano.
Sim! E de duas formas possíveis. A primeira ocorre se alguns dos parasitas liberados no intestino dele conseguirem penetrar na parede do órgão e migrar pelo organismo.
O que acontece mais frequentemente em animais imunossuprimidos pelos vírus da leucemia felina (FeLV) ou da imunodeficiência felina (FIV).
A segunda se dá se o próprio gato ingerir água ou alimentos contaminados com os oocistos excretados das suas próprias fezes, ou então, de outro felino.
Nesse segundo caso, a rota é a mesma que vai levar à formação de cistos em tecidos e órgãos de cães e humanos.
Mas há um detalhe nessa rota que faz toda a diferença: os ovos excretados nas fezes dos gatos não são imediatamente infecciosos.
Para se tornarem capazes de transmitir toxoplasmose em gatos, eles devem passar por um processo chamado esporulação, que leva de 24 horas a 5 dias, dependendo das condições ambientais.
Se você trocar a caixa de areia do gato diariamente, ainda que ele tenha eliminado oocistos de toxoplasma, eles não vão ter tempo de se tornar infectantes!
Mas, sigamos com o raciocínio… De 1 a 5 dias depois de eliminados, os ovos esporulados se tornam infectantes independentemente de onde estiverem.
Se eles contaminarem um reservatório d’água ou uma plantação de hortaliças, por exemplo, e acabarem ingeridos por cães, gatos ou humanos, vão amadurecer a parasitas adultos no trato digestivo do hospedeiro.
Além disso, vão atravessar a parede do intestino e tendem a formar cistos em algum órgão, que vão ficar lá durante toda a vida do animal.
Se esses cistos se formarem em um pet cuja carne servirá de alimento para outro, os parasitas serão novamente liberados no intestino de quem ingeriu essa carne. Ele pode atravessar a parede do órgão e formar novos cistos no novo hospedeiro.
Ficou claro que o risco da toxoplasmose em gato, cachorro e/ou humano está na ingestão de carnes cruas, frutas e hortaliças mal lavadas e água contaminada?
Na maioria dos casos, o gato com toxoplasmose não mostra sinais de doença. Quando eles adoecem, os sintomas mais comuns são bastante inespecíficos: febre, perda de apetite e letargia.
Outros sintomas de toxoplasmose em gatos dependem da localização do cisto do parasita no corpo. Nos pulmões, por exemplo, a infecção pode levar à pneumonia.
Enquanto que, no fígado, pode causar icterícia — mucosas amareladas; nos olhos, cegueira; no sistema nervoso, todos os tipos de alteração, incluindo andar em círculos e convulsão.
O diagnóstico é feito com base na história do gato, no resultado de exames laboratoriais e nos níveis de anticorpos contra o protozoário. Além disso, buscar ovos nas fezes do felino não vale a pena.
Isso porque essa eliminação é intermitente e esses oocistos se parecem com os de alguns outros parasitas.
O tratamento geralmente envolve medicamentos que atacam o parasita e também a inflamação que ele causa. É importante lembrar que, a chance de o gato ou de qualquer paciente se recuperar depende muito de onde o cisto se formou.
Não existe vacina contra a toxoplasmose. Portanto, para preveni-la em gatos, o ideal é não deixar que eles tenham acesso à rua e alimentá-los com proteínas cozidas e preparadas comercialmente. Afinal, o aquecimento adequado inativa os cistos.
Leva no mínimo 24 horas para que os ovos eliminados nas fezes dos gatos se tornem infecciosos. Por isso, a remoção frequente das fezes da caixa de areia, usando luvas e lavando as mãos após o procedimento, praticamente zera a possibilidade dessa via de infecção.
Também é improvável que você seja exposto ao parasita tocando um gato infectado ou sendo mordido ou arranhado por ele. Isso porque os felinos não costumam carregar o parasita nos pelos, na boca ou nas unhas.
Aliás, use luvas para mexer no jardim. Afinal, o gato do vizinho pode ter andado por ali.
E lembre-se: carnes cruas e frutas e legumes mal lavados são fontes de oocistos esporulados muito mais frequentes do que a manipulação das fezes de gatos.
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